segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Memorial de Leitura

Primeiras palavras...
Quem me mostrou o mundo das letras foi minha mãe. Morávamos numa chácara que meu pai comprou e se desdobrava para cuidar. Eu estava prestes a completar sete anos e ouvi meus pais conversarem e decidiram que eu não iria para a escola no ano seguinte, somente no outro ano, quando já estivesse com oito anos e iria junto com minha irmã que estaria com sete. Eu não sabia direito o que era escola, mas já tinha ouvido meus pais comentarem sobre as dificuldades que enfrentaram para estudar, sobre a escola rural que era muito longe de casa e que muitas crianças da redondeza iam estudar na cidade (no Gama), onde o ensino era melhor. Minha curiosidade em ir para este lugar que chamavam de escola crescia a cada dia. Meu pai disse que durante este ano iria juntar dinheiro para comprar uma casa na cidade e assim não precisaria pagar aluguel. Falou comigo cheio de cuidados, não reclamei, mas decidi que definitivamente iria para a escola, mesmo que demorasse. Bem, como eu não iria para a escola, adorei a idéia de continuar passando o dia inteirinho brincando com minhas irmãs e irmãos. Era uma delícia, inventávamos brincadeiras, fazíamos nossos próprios brinquedos.

Alguns dias depois da conversa com meu pai, minha mãe me chamou logo depois do café da manhã e disse que, já que eu não iria para a escola, ela iria me ensinar a ler e a escrever para eu não ficar muito atrasada. E assim começou a me ensinar o b-a-bá, como se dizia. Pegou um caderno e foi escrevendo as famílias silábicas na primeira linha, lia uma vez e pedia para eu repetir, depois eu tinha que copiar até a última linha da folha do caderno. No começo tive dificuldades, mas depois fui, pouco a pouco, conseguindo cumprir a tarefa do dia e então podia ir brincar. Lá pelo terceiro dia, deixou de ser novidade e tudo o que eu queria era ir brincar. Sentada à mesa da sala e de frente para a janela, eu observava meus irmãos brincando e me distraía, só voltava à lição depois que minha mãe ralhava. Não lembro exatamente o momento, mas foi neste dia, ali... sentada em um banco e debruçada sobre uma mesa de madeira roliça que parei de olhar e desejar o mundo que via pela janela e entrei no mundo das letras ... quis aprender todas o mais rápido possível e procurava “ler” as embalagens de produtos alimentícios e de limpeza, a bula de remédios, os jornais velhos e revistas que meu pai guardava. Entrei definitivamente para este mundo abstrato, virtual, e de lá, nunca mais saí.

Não lia livros até a quinta série, só as atividades e livros da escola. A partir de então é que comecei a ler sem a obrigação que a escola colocava. Precisei fazer uma pesquisa sobre várias modalidades esportivas para não ser reprovada (mas isto lá é outra história). Procurei a biblioteca da escola, lugar misterioso para mim e que eu só passava em frente na hora do recreio. Ao procurar livros sobre o assunto da pesquisa, descobri o mundo encantado da biblioteca. Virei o que chamavam de “rato de biblioteca”. E assim cheguei ao segundo grau, o horário do intervalo era para mim o melhor do dia. Corria para a biblioteca para ver as manchetes dos jornais e até dava pra ler alguma coisa, rapidinho. Entregava e pegava livros, cheguei a ler três livros ao mesmo tempo, coisa que eu achava ser impossível, pensava que iria misturar os assuntos. Nesta época os professores de português exigiam as famosas “fichas literárias”, para a maioria dos meus colegas era um pesadelo, para mim era puro deleite. Fui sendo apresentada aos autores mais conhecidos da nossa literatura e foi então que conheci Machado de Assis, foi paixão à primeira leitura, com ele aprendi a dialogar com os personagens e com o próprio autor, imaginava os cenários que ele descrevia e comparava com a vida que ele, Machado, levava. Esta paixão me acompanha pela vida afora...

Minha vida deu uma guinada, quis ser freira, meus pais tiveram um colapso. Por cinco anos fiquei estudando e lendo a Bíblia e outros livros correlatos, li sobre outras religiões e seitas, fui morar em São Paulo e lá conheci meu marido, músico que gostava muito de ler. Não podia ser diferente, mesmo enfrentando dificuldades com a nova realidade familiar, sempre nos apoiamos nos estudos e foi assim que prossegui. Fiz o magistério e fui dar aulas, que era um desejo adormecido. Depois fui para a faculdade de letras. Confesso que não lia por deleite durante a faculdade, lia o que era pedido pelos professores. No trabalho eu lia mais, tornei-me contadora de histórias para as crianças e isto me fascina até hoje. Não foi fácil terminar a faculdade trabalhando quarenta horas e com três filhos pequenos, o menor nasceu no meio do primeiro curso. Quando terminei a segunda faculdade estava exausta e não queria ver livro na minha frente. Tornei-me uma cinéfila. Não durou muito. Hoje tento me dividir entre livros e filmes. Só o que lamento é não ter mais tempo e disponibilidade para ler tudo o que já listei, o pior é que, com este curso do CFORM a minha lista aumentou muito, mas não sou de desistir fácil, ainda chego lá...

Engatinhando - 19/06 a 04/09

Este foi o quarto momento do curso,
momento em que procuramos compreender um pouco sobre o trabalho com o Portfólio.

Estamos ENGATINHANDO
na construção do portfólio pessoal sobre curso
e atualizando nossos conhecimentos...

História em Quadinhos



Esta foi uma situação real que aconteceu na turma do vespertino, os desenhos são dos meus filhos Arthur e Daniel, lindos não?

Outras vozes - 24/04 a 13/06

Este foi o terceiro momento do curso, o reconhecimento de outras vozes...

voz de outros escritores, de outros professores,
enfim,

voz de todos nós envolvidos neste maravilhoso projeto que é a vida.

UnB - 13 de junho

O dia de hoje na Universidade de Brasília foi primoroso. Deixou em mim um sabor especial e o gostinho de quero mais impresso pela professora Dra. Patrícia Vieira. Ela nos trouxe a palavra e suas implicações nos gêneros e tipos textuais, marcando a diferença entre um e outro. Falou com paixão da lexicografia. Nos provocou com algumas perguntas, entre elas: por quê estudar gêneros e tipos textuais na escola? Comecei a inferir... A professora Patrícia nos surpreendeu com a resposta: pra ser feliz! Claro! Por que não? Quando você entende o que lê, quando percebe o enorme leque de possibilidades que a língua oferece você é mais feliz!
Esta visão de que o estudo da palavra e da língua não precisa ser algo enfadonho ou uma cobrança constante é maravilhosa. Perceber que o estudo pode ser muito prazeroso muda toda uma prática enraigada na escola, não só nas aulas mas também na avaliação. E conseqüentemente, os resultados do Rendimento Escolar (que está baixo), pode mudar. A possibilidade de aulas mais interessantes onde os alunos não fujam da sala de aula para "pular" o muro. Antes, sintam necessidade de ali estar, onde sintam prazer na busca do conhecimento e este diferencial somos nós professores que podemos fazer.

Exemplo disso nos deu o professor Dioney esta tarde quando se apresentou e falou com muito carinho do professor que mudou sua vida: José Gadelha, professor de História que até hoje trabalha no CE 09 de Ceilândia, é apaixonado pelo que faz e acredita na escola. Professor Gadelha o ensinou a ler os livros e a ler o mundo que o cerca, mais que os professores de protuguês presos a um ensino gramaticista, infelizmente, confessou ele.
Mas o que é gramática? Como surgiu? Por quê nós, brasileiros, ficamos tão inseguros que precisamos nos apoiar na mulegramática (incompleta e incompreensível em tantas regras e excessões)? Por quê 75% do brasileiros são alfabetizados funcionais, segundo pesquisa do Instituto Paulo Montenegro, realizada em 2006?

Está evidente que esta maneira de ensinar a língua está equivocada. Por quê aprendemos outro(s) idioma(s) e não confundimos com a Língua Portuguesa. Conseguimos diferenciar um do outro nos momentos de fala, conforme o contexto em que nos encontramos. Por quê ao estudar a língua materna, que começamos a aprender ainda no ventre, temos tanta dificuldade? E mesmo depois de anos e anos de cadeira escolar e leituras nos sentimos inseguros com relação à Língua Portuguesa?

Está claro também que a Língua Materna não é a norma padrão que tentamos aprender e ensinar na escola. O Português Brasileiro é a língua que falamos e escrevemos em contextos menos formais. O Português de Portugal, a Norma Padrão (Norma Oculta, Marcos Bagno) é a língua oficial. O grande desafio é ensinar o Português Padrão na escola como segunda língua. Você já pensou nesta possibilidade?...

Para finalizar, o professor Dioney trouxe Mário Quintana para a conversa:

"A gente sempre deve sair à rua como quem foge de casa. Como se estivessem abertos diante de nós todos os caminhos do mundo. Não importa que os compromissos, as obrigações estejam ali...Chegamos de muito longe, de alma aberta e o coração cantando!"

Lembrei-me de Antonio Machado:

"Caminante, no hay camino
el camino se hace al andar."

EAPE - 18 de junho

O encontro de hoje foi com a professora Sônia Soares da Gerência de Multimídia da Secretaria de Educação do Distrito Federal. Ela, com seu o seu olhar atento e faceiro, nos presenteou com uma leitura do seriado Hoje é dia de Maria...

10º Encontro - Gama, 12 de junho

Ao chegarem para o encontro de hoje, os cursistas receberam um baú com balas de mel e vários poemas de amor, afinal de contas, hoje é o dia dos namorados. Logo em seguida, a professora Sônia Soares nos levou a uma viagem fantástica pelo mundo da linguagem. Nos falou de Parmênides e de Shekspeare, de Monet e de Van Gogh, do peso e da leveza que a tudo permeia...
Inesquecível.


O planejamento do encontro juntamente com o material entregue aos cursistas podem ser acessados na página do curso no Gama http://alfalinguagama.googlepages.com/ou no blog: http://memoriasalfalinguagama.blogspot.com/